terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O uso oracular do I Ching

 
A ênfase no aspecto oracular do "I" variou com o tempo. No século VI a.C. era visto mais como livro de filosofia, ao passo que na dinastia Han, quando a magia teve grande papel, era visto como oráculo.
 
Como todo oráculo, exige a aproximação correta: a meditação prévia, o ritual, e a formulação precisa da pergunta. O oráculo nunca falha, quem falha é quem o consulta: se a pergunta não foi clara e precisa, isto indica que a pessoa não tem clareza sobre o que deseja saber. O ritual tem a função psicológica de focar a atenção da pessoa na consulta.
 
Mudanças nos assuntos terrestres e celestes seguem uma ordem previsível natural, com permutação causados pelo destino, o comportamento terrestre e celeste é considerado além da capacidade da humanidade de controlar e representa a Ordem Universal ou Cósmica. A única palavra "Tao", que se traduz como "Caminho," representa um modo Universal ou Cósmico.
 
Humanidade, por outro lado, exercícios de vontade livre e possui a capacidade de mudança de comportamento por escolha. I CHING captura viaja da humanidade que a Ordem Universal (Tao) e fornece conselhos com os quais pode-se fazer uma mudança significativa para a melhoria da sua própria vida. Como o I Ching identifica a posição da humanidade dentro do Tao, que também é capaz de retratar e prever circunstâncias tão facilmente como se pode prever queda de neve nos dias de inverno ou quente no verão.
 
Isto leva a um dos preceitos importantes do I Ching:
 
"Para Pessoas Superior do I Ching dá conselhos,
     relativamente às pessoas Inferior faz previsões. "
A "Pessoa Superior" é considerada como aquele que se está a esforçar para a melhoria no estilo de vida, comportamento, e acumulação de sabedoria. A "pessoa inferior" é considerada como aquele que lança questões apenas sobre os caprichos do destino.
 
Significado do I Ching
O livro do I Ching, conhecido também como “o livro das mudanças”, é um dos cinco clássicos e fundamentais livros do Confucionismo. Desde tempos imemoráveis é, sem lugar a dúvidas, o principal oráculo e o primeiro recurso espiritual dos povos asiáticos. Ademais, tem sempre tido um aumento crescente em Europa e América graças a sua misteriosa potencialidade de dar prognósticos muito detalhados a quem deseje estudá-los com atenção. O I Ching não faz uma verdadeira previsão do futuro, mas brinda uma clara visão do presente e oferece indicações sobre como enfrentar o momento actual que estamos a viver. “Vai bem mais” da pergunta que foi formulada, pondo ao nu as mais profundas verdades da natureza de nosso inconsciente; naturalmente, consultando o I Ching obtém-se também a previsão de um determinado evento, mas dependerá sempre de nossa vontade.
 
Mais da história do I Ching
I CHING - O LIVRO DAS MUTAÇÕES
Há milhares de anos o I Ching é utilizado como oráculo e conselheiro, servindo imperadores e pessoas comuns de modo imparcial. Segundo os sábios, ele pode abrir as portas do autoconhecimento e funcionar como uma chave para a compreensão do universo.
As lendas chinesas dizem que o I Ching - O Livro das Mutações surgiu num período mítico do tempo, mas a história afirma que os textos e comentários mais antigos datam do período em que teriam vivido o Rei Wen e seu filho, o Duque Chou, no século XII a.C.. A autoria do I Ching clássico é creditada ao Rei Wen e acredita-se que os comentários foram um acréscimo do sábio Confúcio (551-479 a.C.), quando de seu famoso estudo sobre o Livro das Mutações.
Para grande parte dos pesquisadores, o famoso milenar oráculo é um produto do amadurecimento sócio-cultural da China nos últimos 3000 anos. Tudo o que aconteceu de importante nesse período foi de alguma maneira adaptado e acrescentado à obra. Vários estudiosos do Oriente e Ocidente têm se debruçado sobre suas páginas com o objectivo de estudá-lo e compreender melhor os textos que, muitas vezes, tornam-se enigmas de difícil entendimento devido à linguagem rebuscada do chinês antigo.
O I Ching também teve grande influência sobre toda a filosofia chinesa, principalmente o Taoísmo e Confucionismo — duas das principais linhas de pensamento chinês. Mas essa influência não se restringiu à filosofia apenas, estendendo-se ao governo, música e artes plásticas. Várias obras foram inspiradas nas ideias contidas no oráculo e decisões de Estado foram tomadas com base no julgamento que ele apresentava.
O Livro das Mutações é tão considerado pelos chineses que foi a única obra que sobreviveu à queima de escritos e livros no período de Ch'in Shih Huang Ti, quando desapareceram dezenas ou centenas de obras que poderiam esclarecer diversos pontos da história do Extremo Oriente.
Os textos e comentários do I Ching foram trazidos ao ocidente por James Legge, em seu livro The Sacred Book of the East, XVI: The I King, editado em 1882. Foi ele quem utilizou pela primeira vez os termos trigrama (três linhas dispostas de forma vertical representando, respectivamente, de baixo para cima: a terra, o homem e o céu) e hexagrama (dois grupos de trigramas verticais), posteriormente adoptados em todos os escritos sobre o tema. Mas o grande responsável pela divulgação do no ocidente foi Richard Wilhelm em sua obra I Ching - O Livro das Mutações, publicado no Brasil pela Editora Pensamento. O volume traz comentários do ilustre Carl Gustav Jung, que se apaixonou pelo que ali está escrito, e dedicou-se ao seu estudo e compreensão durante toda a vida.
Quando os filósofos e intelectuais do Ocidente descobriram livro, começaram a perceber a grande sabedoria contida em suas palavras, que revelavam uma forma inovadora de lidar com a vida e o ser humano. A maneira como o Extremo Oriente era visto até então mudou radicalmente, com a profundidade filosófica da obra comparada aos textos de Platão e Sócrates. Não apenas isso, segundo alguns estudiosos, o I Ching pode até mesmo ser comparado a outros livros sagrados da humanidade, como a Bíblia ou a Torah, entre outros.
O "I Ching" pode ser compreendido e estudado tanto como um oráculo quanto como um livro de sabedoria. Na própria China, é alvo do estudo diferenciado realizado por religiosos, eruditos e praticantes da filosofia de vida taoísta.
O uso do Livro das Mutações como oráculo sempre foi muito controverso. De maneira geral, as pessoas buscam no sobrenatural uma resposta para seus questionamentos e dúvidas, acreditando que o mundo espiritual tem todas as soluções que elas necessitam. Com o I Ching, as coisas não são bem assim.
O Livro das Mutações não é somente um oráculo, mas também um oráculo. No ocidente, vários erros e abusos foram cometidos como resultado de uma visão estereotipada sobre ele. Na maior parte das vezes, a obra serve somente como um guia, mostrando qual direcção seguir ou indicando percalços e vantagens possíveis de cada caminho.
A busca por verdades espirituais é um desenvolvimento pelo qual todas as sociedades humanas já passaram. As ideias por trás das linhas que compõem os hexagramas demonstram isso. Crê-se que inicialmente uma linha inteira (––) que hoje representa a ideia do yang, significaria antigamente um 'sim', e uma linha quebrada (– –), yin, um 'não'.
Essas respostas serviriam para perguntas simples. No entanto, com o passar do tempo foi desenvolvido um conjunto de símbolos mais complexos, que iria culminar nos trigramas e, por fim, nos hexagramas. Os trigramas possuem nomes que refletem aspectos da filosofia chinesa do yin e yang: O Criativo, O Abissal, O Receptivo, O Incitar, A Suavidade, O Aderir, A Alegria, A Quietude. Ao se juntarem, eles compõem os 64 hexagramas que formam o corpo do I Ching.
Cada hexagrama traz um conjunto de explicações e conselhos com o intuito de ajudar a pessoa a achar o melhor caminho para suas acções. A interpretação correta dos hexagramas parte da ideia de que tudo está interligado: a terra, o homem e o céu têm de agir em harmonia para que seja possível atingir a harmonia entre a nossa vida e a de quem nos cerca.
A consulta tradicional do oráculo geralmente é feita com 50 varetas de milefólio (um tipo de árvore considerada mágica), mas envolve uma série de rituais que, se cumpridos rigorosamente, estendem o tempo de cada consulta para mais de uma hora — o que a torna cansativa e reservada apenas a determinadas ocasiões. O método mais comum entre os praticantes é o das moedas que, embora simples, permite obter facilmente o trigrama correspondente. Esse método consiste em escolher três moedas, que serão jogadas ao mesmo tempo. Cada lado terá um valor numérico que, ao ser somado, resultará na linha yin ou yang correspondente. Costuma-se atribuir o valor 3 (yang) para cara e 2 (yin) para coroa. Após 6 jogadas, o hexagrama estará formado e a resposta pode ser procurada no livro.
Esse conjunto de linhas pode revelar um ponto essencial no estudo do I Ching como oráculo. Quando uma linha do hexagrama contém em si somente o yang (3+3+3 = 9) ou o yin (2+2+2 = 6) diz-se que ela é móvel ou velha. Nesse caso, ela se transforma no seu oposto. Uma linha yin móvel passa a ser yang jovem, e vice-versa. Com isso, além do hexagrama inicial, temos a sua consequência ou rumo mais provável que os acontecimentos tomarão.
Na China, acredita-se que o oráculo nunca falha, respondendo sempre de maneira clara e concisa. Quando a resposta se mostra enigmática a culpa é de quem está consultando, pois não formulou a pergunta correctamente. Todas as barreiras para entender as respostas estão em nossa mente e, se não se consegue compreendê-las, a culpa é só nossa.
 
E por fim... A Filosofia do I Ching
Os princípios filosóficos contidos no Livro das Mutações estão de tal forma integrados à vida intelectual da China, que podem ser encontrados nas mais variadas formas de expressão cultural do país.
Como os habitantes daquele país sempre foram muito dependentes da agricultura, para eles é natural a necessidade de observar a mudança das estações, os períodos mais propícios ao plantio e, em especial, as relações entre o homem e o meio-ambiente. Essas exigências influenciaram também a filosofia contida no I Ching.
Inicialmente, a ideia do yin e yang foi elaborada com base nesses princípios. Sob a óptica das duas energias contrárias, os filósofos antigos podiam analisar e classificar o universo. O positivo, yang, o negativo, yin, formariam todas as coisas conhecidas ou ainda por conhecer. Essa noção surgiu em tratados filosóficos de pensadores de outros povos, mas na China ela foi um pouco mais longe. Acreditava-se que mesmo o yin ou o yang mais puro conteria em si a semente de seu oposto. Para os chineses, nada continua como está, pois o caminho da natureza é a mutação: a riqueza possui em seu cerne a pobreza, o progresso contém a semente da decadência, o orgulho traz a queda e assim por diante. Esse é principal ensinamento contido no Livro das Mutações.
A própria ideia por trás dos oito trigramas incorpora esse sistema. Na verdade, eles representam estados de transformação — a energia yang do Criativo se transforma no yin do Receptivo, e assim por diante. Nada no contexto do I Ching pode ser visto de forma isolada, mas como relações entre as forças e energias que compõem o homem e a criação.
Outro ponto exposto nas leituras do I Ching é que os acontecimentos nascem antes no plano das ideias, manifestando-se no mundo material somente após algum tempo. Isso foi exposto e adoptado pelos dois maiores pensadores chineses, Confúcio e Lao Tse, ideia que posteriormente seria abordada, embora com novo enfoque, por Jung nas suas argumentações sobre o inconsciente colectivo e a sincronicidade, derivadas de seus estudos do oráculo chinês.
Um factor interessante nas ideias do I Ching é a capacidade do ser humano mudar o curso dos acontecimentos. Na maior parte das culturas e religiões, o homem é visto como um mero espectador dos desígnios do destino. No Livro das Mutações ele é co-autor do destino, influenciando sua vida por meio do conhecimento das forças yin e yang, quando necessário.
O I Ching tem como objectivo maior conduzir o homem a uma acção harmónica com o Tao (o Caminho Real). Para tornar isso mais efectivo, ele fornece uma visão abrangente da vida e das experiências humanas, permitindo que o homem assuma a responsabilidades por suas acções e se torne seu próprio soberano. Há mais de três mil anos, o livro já apresentava uma abordagem da vida e das relações entre os seres que, no final do século XX, tornou-se comum e conhecida como a visão holística do universo. Muito antes dos autores modernos afirmarem que o homem deveria ser visto como um todo, os sábios chineses não apenas já conheciam o conceito, como tinham elaborado um caminho prático para isso.
O interesse do mundo ocidental no I Ching, começou com a tradução "Legge" em Inglês no final do século 19. Em toda a Europa, este trabalho, bem como o "Wilhelm" tradução alemã de 1923, são comuns a todas as línguas europeias. Nos Estados Unidos, a popularidade do I Ching começou na década de 1930 quando traduções mais literais e interpretativa começaram a aparecer. Mas a sua popularidade inicial deveu-se principalmente como um "jogo de salão". Na década de 1940 o I Ching começou a assumir importância significativa, como um livro de sabedoria, quando o eminente psicólogo suíço, CG Jung, abraçou os seus conceitos filosóficos. A precisão associada ao uso correto e aplicação do I Ching está promvendo um crescimento muito grande no interesse do conhecimento do I Ching, uma vez que é baseado na ordem natural e não requer energia psíquica. O I Ching também emprega horóscopos e numerologia em profecias, produzindo resultados que são fascinantes e realistas.
Note-se que o I Ching não é um conceito filosófico submisso, mas que espera que o consulente reconheça a situação ao invés de ceder às circunstâncias, tão necessário para evitar um desastre sobre si. Em aproximadamente 500 a.C Confúcio acrescentou o "Símbolos" e comentários ao I Ching, mas provavelmente nunca completou seu trabalho, ou uma parte substancial foi perdido. No final de sua vida ele foi citado como tendo dito: "Se eu tivesse mais 50 anos para viver, eu iria dedicá-los todos para o I Ching".
 
In “I Ching o Livro das Mutações” de Richard Willhelm

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