segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

I Ching


HISTÓRIA DO LIVRO DAS MUTAÇÕES (I CHING, em chinês)
O I Ching, ou Livro das Mutações, apareceu na China há aproximadamente 3.000 anos, mas teve sua origem em formas oraculares ainda mais antigas, de uma época conhecida como “era mítica do Imperador Fu Hsi” (aproximadamente 4.000 anos a.C.), herói lendário considerado o fundador da civilização chinesa.
 
É um texto clássico chinês composto de várias camadas, sobrepostas ao longo do tempo. É um dos mais antigos e um dos únicos textos chineses que chegaram até nossos dias. Ching, significando clássico, foi o nome dado por Confúcio à sua edição dos antigos livros. Antes era chamado apenas I: o ideograma I é traduzido de muitas formas, e no século XX ficou conhecido no ocidente como "mudança" ou "mutação".
 
Na literatura chinesa, quatro sábios são citados como autores do Livro das Mutações: respectivamente Fu Hsi, Rei Wen, o Duque de Chou e Confúncio. Fu Hsi é uma figura lendária que representa a era da caça e da pesca, devendo-se a ele também o hábito de cozer alimentos. O fato de ser ele indicado como o inventor dos signos lineares do Livro das Mutações significa que lhes é atribuída uma tal antiguidade que antecede à memória histórica.
 
Segundo a tradição geralmente aceita, sobre o qual não temos motivo para levantar suspeitas, a atual compilação dos sessenta e quatro (64) hexagramas teve sua origem com o Rei Wen, antecessor da dinastia Chou. Diz-se que ele acrescentou breves julgamentos aos hexagramas durante o período em que esteve aprisionado por ordem do tirano Chou Hsin. O texto relativo às linhas foi redigido por seu filho, o Duque de Chou. Sob essa forma, e com o título de “As Mutações de Chou” (Chou I), foi usado como oráculo durante o período da dinastia Chou como demonstram vários antigos registros históricos.
 
Segundo a antiga tradição Chinesa, o inventor dos oito trigramas (pa-kua) que representam o fundamento do sistema do I Ching e dos quais derivam os 64 hexagramas, foi o primeiro lendário imperador Chinês que governou entre os anos 2852-2737 a.C.: Fu Hsi.
 
Este personagem doou às populações muitas invenções úteis e inovadoras para a época, como a pesca com a rede, a criança de vermes de seda e a oportunidade de domesticar os animais.
 
A mais importante entre suas invenções é a dos oitos trigramas e a consultação do oráculo por meio dos ramos de aquileia (Achillea millefolium). O segundo personagem que deu sua contribuição à composição do Livro das Mudanças foi Ching Wen, como vimos acima.
 
Conhecido como o fundador da Dinastia Chou (1150-249 a.c.) e grande escritor (seu nome significa “civilização ching” ou “escritura ching”), introduziu os 64 hexagramas, seu nome e significado (texto T’uan). Ching Wen escreveu seu livro durante a detenção ordenada por Hsin – o tirano, destituído a seguir pelo filho Wu. Foi ele que deu o nome ao “Livro das Mudanças”.
 
ORIGENS
 
O mais antigo método chinês de adivinhação do qual se tem notícia é a leitura de sinais em ossos de boi. Em geral, a omoplata do animal era colocada sobre o fogo e, depois de algum tempo, apareciam rachaduras no osso, provocadas pelo calor, que eram então lidas como a mensagem do destino. Desse método primordial – após o Imperador Fu Hsi ter visto uma tartaruga sair do rio - derivou-se o de queimar a carapaça (o casco) da tartaruga, animal sagrado para os chineses, símbolo da estabilidade e da longevidade. Exposta também ao calor, a carapaça rachava-se e o adivinho interpretava as linha que se tinham formado. Embora não exista nenhuma prova concreta, alguns estudiosos especulam que esse tipo de leitura de linhas originou a primeira forma de I Ching, constituída pelos oito Trigramas básicos, que alternam linhas inteiras (Yang) e cortadas (Yin).
 
O I Ching surgiu antes da dinastia Chou (1150-249 a.C.) e era um conjunto de oito Kua, figuras formadas por três e seis linhas sobrepostas. James Legge, na sua tradução para o inglês (1882), chamou trigrama o conjunto de três linhas e hexagrama o de seis, para distingui-los entre si.
 
Por volta de 1150 a.C., o Imperador Shang Chou Hsin, despeitado pela reconhecida capacidade de governar do Rei Wen, senhor da província de Chou, mandou aprisioná-lo. Enquanto estava preso, Wen empregou seu tempo elaborando os julgamentos que acompanham os hexagramas. Depois de um período de lutas, no qual a província de Chou se rebelou, o Rei Wen retirou-se do governo e foi sucedido pelo seu filho Wu, que derrotou a dinastia Shang, dando início à dinastia Chou. Wu, conhecido como o Duque de Chou, descobriu os estudos que o pai realizara sobre o I ching e, percebendo a importância cultural que continha, decidiu continuar a obra. Sua grande contribuição foram os 384 comentários das linha mutáveis (ou móveis).
 
Segundo a tradição, durante a dinastia Shang (c. 1766-1122 a.C.) e durante o primeiro período da dinastia Chou, o oráculo era consultado através de varetas de caule de milefólio. O adivinho jogava as varetas e obtinha um número par ou impar, que determinava se a linha era inteira ou cortada, depois de ter jogado seis vezes, o hexagrama estava formado.
 
Muito tempo depois (Século 6 a.C), o I Ching foi enriquecido com os comentários, atribuídos a Confúcio (adaptação ocidental do nome K'ong Fu-Tse) e alguns de seus discípulos. Posteriormente, Pu Shang, um seguidor de Confúcio, foi encarregado de difundir os conhecimentos milenares conservados no livro, formando-se então em torno dele toda uma escola filosófica, que produziu grande quantidade de textos anteriores, deram origem ao que atualmente é conhecido como as Dez Asas. Sobrevivendo às guerras, às várias dinastias e à queima das bibliotecas, o I Ching atravessou os séculos até chegar ao Ocidente em fins do século passado. No entanto, o Livro das Mutações ainda deveria esperar até 1923 para alcançar uma tradução à altura de seus méritos. Nesse ano, depois de longas pesquisas, o sinólogo Richard Wilhelm deu a conhecer sua tradução para a língua alemã da grande obra chinesa.
 
Atribui-se a Confúcio (Kung Tzu, 551-478 a.c.) a escritura dos Comentários e parte dos Apêndices do “Livro das Mutações” ou “O Livro das Mudanças”.
 
À idade de 50 anos, Confúcio declarou: “Se o céu me pudesse dar outros 50 anos de vida, os dedicaria ao estudo do I- Ching e quiçá então aprenderia a manter-me afastado dos problemas”. Confúcio escreveu dez comentários sobre este clássico, chamados “As Dez Asas”, transformando um texto de predições numa das melhores obras da filosofia.
 
Já com idade avançada dedicou-lhe um intenso estudo, sendo muito provável, que o Comentário sobre a Decisão (T’an Chuan), seja trabalho seu. O Comentário sobre a Imagem também reporta a ele, ainda que menos diretamente. De um terceiro tratado, um importante e detalhado comentário sobre as linhas, compilado por seus discípulos ou sucessores sob a forma de perguntas e respostas, restam apenas fragmentos. (Alguns encontram-se na seção intitulada “Wên Yen” – Comentário às Palavras do Texto -, outros estão no “Ta Chuan” – O Grande Tratado).
 
Desde então o livro do I Ching foi a inspiração também para os sucessivos Taoistas, como Chuang Tzu e Lao Tzu, e para diferentes filósofos e científicos.
 
Repito, dentre os seguidores de Confúncio parece que foi principalmente Pu Shang (Tzu Hsia) que difundiu o conhecimento do Livro das Mutações. Com o desenvolvimento da especulação filosófica, como se vê no “Ya Hsueh” e no “Chung Yung”, esse tipo de filosofia exerceu uma influência cada vez maior na interpretação do Livro das Mutações. Toda uma filosofia se desenvolveu em torno do Livro, do qual fragmentos – alguns antigos, outros mais recentes – encontram-se nas chamadas “Dez Asas” (Coletânea de Tratados referentes ao I Ching). Elas diferem muito entre si quanto ao conteúdo e valor intrínseco.
 
O Livro das Mutações escapou ao destino dos outros clássicos na época da famosa queima de livros ordenada pelo tirano Ch’in Shih Huang Ti. Caso houvesse algum fundo de realidade na lenda de que esse incêndio seria o único responsável pela mutilação dos textos dos antigos tratados, o I Ching, pelo menos, deveria estar intacto; mas não é esse o caso. Na verdade, as vicissitudes dos séculos, o colapso das culturas tradicionais e a mudança no sistema de escrita é que são responsáveis pelos danos sofridos por todas as obras da antiguidade.
 
Os livros de bambu e seda viraram fumaça, arruinando o nome do imperador. No rio eles guardavam em vão reino do dragão imperial. Mesmo antes que as cinzas tivessem esfriado, uma rebelião eclodiu em Shandong - Liu Bang e Xiang Yu, ao que parece, não leu os livros. - Zhang Jie (836-905)
 
Notas: Este poema refere-se à famosa queima de livros ordenados por Qin Shi Huang (ou Ch’in Shih Huang Ti), o primeiro imperador da China, em 213 a.C., a fim de suprimir a dissidência e destruir os escritos de todas as escolas de pensamento, exceto para os legalistas (Fajia??). Livros na época eram escritos em tiras de bambu ou rolos de seda. A ironia é que as rebeliões camponesas e revoltas militares que derrubaram o Império Qin apenas sete anos depois (206 a.C.), foram conduzidos por homens de ação que não estavam interessados em "livro-aprendizagem", como Xiang Yu, um alto general, e Liu Bang, um oficial do Exército que se tornou o fundador do Han de Qin Shi Huang, Tiananmen Wax Museum, em Pequim.
 
O I Ching escapou à grande queima de livros feita pelo tirano Ch'in Shih Huang Ti, no tempo em era considerado um livro de magia e adivinhação, o que levou a escola de magos das dinastias Ch'in e Han a interpretá-lo segundo outras visões “A doutrina do yin-yang” foi sobreposta ao texto. O sábio Wang Pi veio a resgatá-lo como livro de sabedoria mais tarde.
 
Filosofia e Cosmologia no I Ching
 
As oito figuras que formam o I Ching estão na base da cultura que se desenvolveu na China durante milênios. Para os chineses a ordem do mundo depende de se dar o nome correto às coisas, portanto o significado de "I" sempre foi objeto de discussão. Alguns vêem o ideograma I como semelhante ao desenho de um camaleão, representando o movimento (como o lagarto) e a mutação (como o mimetismo do camaleão). Outros afirmam que o ideograma é formado pelo do Sol em cima e o da Lua embaixo, a mutação sendo simbolizada pelo movimento incessante destes astros no céu.
 
Os versos do I Ching foram transmitidos por sucessivas gerações de estudiosos até o século 17 a.C, quando foram anotadas em tiras de bambu. No século 12 a.C, o rei Wen escreveu os primeiros comentários sobre o trigramas do I Ching. Ao longo do tempo, o Rei Wen, seu filho e Tan o Duque de Chou continuou a trabalhar sobre o I Ching e é o que Duke está creditando com ajuste de dois trigramas uma sobre a outra para fazer um hexagrama .
 
Muito mais tarde, o imperador Chin proibiu centenas de livros sobre religião e filosofia. E, mais tarde foi Hitler, Stalin, o Khmer Vermelho de Mao Tze Tung e, o I Ching que estavam na lista do conhecimento proibido. Apesar de tudo, sobreviveu e foram transmitidos oralmente pelos ciganos, que tinha a vantagem de nunca ficarem em qualquer lugar por tempo suficiente para ser controlado por nenhum governo. Durante a última dinastia imperial, que durou de 1644-1912, as raízes originais do I Ching foi mais uma vez descoberto e estudado, e desta vez eles permaneceram na impressão. Os comunistas chineses desaprovou a adivinhação chinesa , considerando-os superstições inúteis, mas eles perceberam que era tarde demais para bani-las totalmente.
 
O I Ching ou Livro das Mutações, é um texto clássico chinês composto por várias camadas, sobrepostas ao longo do tempo. É um dos mais antigos e um dos únicos textos chineses que chegaram até nossos dias. Ching, significando clássico, foi o nome dado por Confúcio à sua edição dos antigos livros de conhecimento. Antes era chamado apenas I : o ideograma I é traduzido de muitas formas, e no século XX ficou conhecido no ocidente como "mudança" ou "mutação".
 
Para o pensamento chinês, não há o que mude, há apenas o mudar. A mutação seria o caráter do mundo. Mas a mutação é, em si mesma, invariável, ela existe sempre. Portanto, "I" significa mutação e não-mutação. Subjaz, à complexidade do universo, uma 'simplicidade' que consiste nos princípios que estão por detrás de todos os ciclos. Ao fluir com as circunstâncias evita-se o atrito e portanto a resistência: esse é o caminho do homem sábio.
 
Tanto o taoísmo como o confucionismo, as duas linhas da filosofia chinesa, beberam da fonte do I.
 
Tudo que ocorre no céu e na terra tem sua imagem nos oito trigramas, que estão continuamente a transformar-se um no outro. Têm várias camadas de significados, e representam processos da natureza. São, portanto, o mundo arquetípico, ou o mundo das idéias de Platão. É usada para ilustrá-los a analogia com a família:
•o pai é forte
•a mãe é maleável
•os três filhos são as três fases do movimento: início, perigo e repouso
•as três filhas são as três etapas da devoção: suave penetração, clareza e tranquilidade
 
Em Heráclito (filósofo pré-socrático grego), e mais tarde na dialética européia, encontramos os ecos da fluidez que é a base do I Ching.
 
Já vimos que, a origem dos 64 hexagramas é atribuída a Fu Hsi, o criador mítico chinês, e até a dinastia Chou eles formavam o I. Os oito trigramas têm nomes não encontrados em chinês e a sua origem é pré-literária.
 
O tempo obscureceu a compreensão das linhas, e no começo da dinastia Chou surgiram dois anexos: o Julgamento, atribuído pela tradição ao rei Wên, e as Linhas, atribuídas a seu filho, o duque de Chou, ambos fundadores desta dinastia.
 
Mais tarde, mesmo o significado destes textos começou a ficar obscuro, e no século VI a.C. foram acrescentadas as Dez Asas, que a tradição atribui a Confúcio, embora seja claro que a maioria delas não pode ser de sua autoria. O nome "I Ching" é dado ao conjunto dos Kua e todos os textos posteriores.
 
Houveram várias traduções do "I Ching" para línguas ocidentais, algumas claramente desrespeitosas, tratando a cultura chinesa como primitiva. A tradução de James Legge fez parte da série Sacred books of the East (Livros sagrados do Oriente), e foi traduzida também para o português.
 
Richard Wilhelm traduziu o I Ching para o alemão ao longo dos anos em que viveu na China, inclusive durante a invasão japonesa, quando a cidade em que estava foi cercada. Teve o apoio de um velho e sábio mestre, Lao Nai Suan, que morreu ao ser concluída a tradução. A edição alemã é do ano de 1923. Wilhelm traduziu também outro clássico chinês, o Tao Te Ching.

In “I Ching o Livro das Mutações” de Richard Willhelm

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