HISTÓRIA DO LIVRO DAS
MUTAÇÕES (I CHING, em chinês)
O I Ching, ou Livro
das Mutações, apareceu na China há aproximadamente 3.000 anos, mas teve sua
origem em formas oraculares ainda mais antigas, de uma época conhecida como
“era mítica do Imperador Fu Hsi” (aproximadamente 4.000 anos a.C.), herói
lendário considerado o fundador da civilização chinesa.
É um texto clássico chinês composto de várias
camadas, sobrepostas ao longo do tempo. É um dos mais antigos e um dos únicos
textos chineses que chegaram até nossos dias. Ching, significando clássico, foi
o nome dado por Confúcio à sua edição dos antigos livros. Antes era chamado
apenas I: o ideograma I é traduzido de muitas formas, e no século XX ficou conhecido
no ocidente como "mudança" ou "mutação".
Na literatura chinesa,
quatro sábios são citados como autores do Livro das Mutações: respectivamente
Fu Hsi, Rei Wen, o Duque de Chou e Confúncio. Fu Hsi é uma figura lendária que
representa a era da caça e da pesca, devendo-se a ele também o hábito de cozer
alimentos. O fato de ser ele indicado como o inventor dos signos lineares do
Livro das Mutações significa que lhes é atribuída uma tal antiguidade que
antecede à memória histórica.
Segundo a tradição
geralmente aceita, sobre o qual não temos motivo para levantar suspeitas, a
atual compilação dos sessenta e quatro (64) hexagramas teve sua origem com o
Rei Wen, antecessor da dinastia Chou. Diz-se que ele acrescentou breves
julgamentos aos hexagramas durante o período em que esteve aprisionado por
ordem do tirano Chou Hsin. O texto relativo às linhas foi redigido por seu
filho, o Duque de Chou. Sob essa forma, e com o título de “As Mutações de Chou”
(Chou I), foi usado como oráculo durante o período da dinastia Chou como
demonstram vários antigos registros históricos.
Segundo a antiga
tradição Chinesa, o inventor dos oito trigramas (pa-kua) que representam o
fundamento do sistema do I Ching e dos quais derivam os 64 hexagramas, foi o
primeiro lendário imperador Chinês que governou entre os anos 2852-2737 a.C.:
Fu Hsi.
Este personagem doou
às populações muitas invenções úteis e inovadoras para a época, como a pesca
com a rede, a criança de vermes de seda e a oportunidade de domesticar os
animais.
A mais importante
entre suas invenções é a dos oitos trigramas e a consultação do oráculo por
meio dos ramos de aquileia (Achillea millefolium). O segundo personagem que deu
sua contribuição à composição do Livro das Mudanças foi Ching Wen, como vimos
acima.
Conhecido como o
fundador da Dinastia Chou (1150-249 a.c.) e grande escritor (seu nome significa
“civilização ching” ou “escritura ching”), introduziu os 64 hexagramas, seu
nome e significado (texto T’uan). Ching Wen escreveu seu livro durante a
detenção ordenada por Hsin – o tirano, destituído a seguir pelo filho Wu. Foi
ele que deu o nome ao “Livro das Mudanças”.
ORIGENS
O mais antigo método
chinês de adivinhação do qual se tem notícia é a leitura de sinais em ossos de
boi. Em geral, a omoplata do animal era colocada sobre o fogo e, depois de
algum tempo, apareciam rachaduras no osso, provocadas pelo calor, que eram então
lidas como a mensagem do destino. Desse método primordial – após o Imperador Fu
Hsi ter visto uma tartaruga sair do rio - derivou-se o de queimar a carapaça (o
casco) da tartaruga, animal sagrado para os chineses, símbolo da estabilidade e
da longevidade. Exposta também ao calor, a carapaça rachava-se e o adivinho
interpretava as linha que se tinham formado. Embora não exista nenhuma prova
concreta, alguns estudiosos especulam que esse tipo de leitura de linhas
originou a primeira forma de I Ching, constituída pelos oito Trigramas básicos,
que alternam linhas inteiras (Yang) e cortadas (Yin).
O I Ching surgiu antes
da dinastia Chou (1150-249 a.C.) e era um conjunto de oito Kua, figuras
formadas por três e seis linhas sobrepostas. James Legge, na sua tradução para
o inglês (1882), chamou trigrama o conjunto de três linhas e hexagrama o de
seis, para distingui-los entre si.
Por volta de 1150
a.C., o Imperador Shang Chou Hsin, despeitado pela reconhecida capacidade de
governar do Rei Wen, senhor da província de Chou, mandou aprisioná-lo. Enquanto
estava preso, Wen empregou seu tempo elaborando os julgamentos que acompanham
os hexagramas. Depois de um período de lutas, no qual a província de Chou se
rebelou, o Rei Wen retirou-se do governo e foi sucedido pelo seu filho Wu, que
derrotou a dinastia Shang, dando início à dinastia Chou. Wu, conhecido como o
Duque de Chou, descobriu os estudos que o pai realizara sobre o I ching e,
percebendo a importância cultural que continha, decidiu continuar a obra. Sua
grande contribuição foram os 384 comentários das linha mutáveis (ou móveis).
Segundo a tradição,
durante a dinastia Shang (c. 1766-1122 a.C.) e durante o primeiro período da
dinastia Chou, o oráculo era consultado através de varetas de caule de milefólio.
O adivinho jogava as varetas e obtinha um número par ou impar, que determinava
se a linha era inteira ou cortada, depois de ter jogado seis vezes, o hexagrama
estava formado.
Muito tempo depois
(Século 6 a.C), o I Ching foi enriquecido com os comentários, atribuídos a
Confúcio (adaptação ocidental do nome K'ong Fu-Tse) e alguns de seus
discípulos. Posteriormente, Pu Shang, um seguidor de Confúcio, foi encarregado
de difundir os conhecimentos milenares conservados no livro, formando-se então
em torno dele toda uma escola filosófica, que produziu grande quantidade de
textos anteriores, deram origem ao que atualmente é conhecido como as Dez Asas.
Sobrevivendo às guerras, às várias dinastias e à queima das bibliotecas, o I
Ching atravessou os séculos até chegar ao Ocidente em fins do século passado.
No entanto, o Livro das Mutações ainda deveria esperar até 1923 para alcançar
uma tradução à altura de seus méritos. Nesse ano, depois de longas pesquisas, o
sinólogo Richard Wilhelm deu a conhecer sua tradução para a língua alemã da
grande obra chinesa.
Atribui-se a Confúcio
(Kung Tzu, 551-478 a.c.) a escritura dos Comentários e parte dos Apêndices do
“Livro das Mutações” ou “O Livro das Mudanças”.
À idade de 50 anos,
Confúcio declarou: “Se o céu me pudesse dar outros 50 anos de vida, os
dedicaria ao estudo do I- Ching e quiçá então aprenderia a manter-me afastado
dos problemas”. Confúcio escreveu dez comentários sobre este clássico, chamados
“As Dez Asas”, transformando um texto de predições numa das melhores obras da
filosofia.
Já com idade avançada
dedicou-lhe um intenso estudo, sendo muito provável, que o Comentário sobre a
Decisão (T’an Chuan), seja trabalho seu. O Comentário sobre a Imagem também
reporta a ele, ainda que menos diretamente. De um terceiro tratado, um
importante e detalhado comentário sobre as linhas, compilado por seus
discípulos ou sucessores sob a forma de perguntas e respostas, restam apenas
fragmentos. (Alguns encontram-se na seção intitulada “Wên Yen” – Comentário às
Palavras do Texto -, outros estão no “Ta Chuan” – O Grande Tratado).
Desde então o livro do
I Ching foi a inspiração também para os sucessivos Taoistas, como Chuang Tzu e
Lao Tzu, e para diferentes filósofos e científicos.
Repito, dentre os
seguidores de Confúncio parece que foi principalmente Pu Shang (Tzu Hsia) que
difundiu o conhecimento do Livro das Mutações. Com o desenvolvimento da
especulação filosófica, como se vê no “Ya Hsueh” e no “Chung Yung”, esse tipo
de filosofia exerceu uma influência cada vez maior na interpretação do Livro
das Mutações. Toda uma filosofia se desenvolveu em torno do Livro, do qual
fragmentos – alguns antigos, outros mais recentes – encontram-se nas chamadas
“Dez Asas” (Coletânea de Tratados referentes ao I Ching). Elas diferem muito
entre si quanto ao conteúdo e valor intrínseco.
O Livro das Mutações
escapou ao destino dos outros clássicos na época da famosa queima de livros
ordenada pelo tirano Ch’in Shih Huang Ti. Caso houvesse algum fundo de
realidade na lenda de que esse incêndio seria o único responsável pela
mutilação dos textos dos antigos tratados, o I Ching, pelo menos, deveria estar
intacto; mas não é esse o caso. Na verdade, as vicissitudes dos séculos, o
colapso das culturas tradicionais e a mudança no sistema de escrita é que são
responsáveis pelos danos sofridos por todas as obras da antiguidade.
Os livros de bambu e
seda viraram fumaça, arruinando o nome do imperador. No rio eles guardavam em
vão reino do dragão imperial. Mesmo antes que as cinzas tivessem esfriado, uma
rebelião eclodiu em Shandong - Liu Bang e Xiang Yu, ao que parece, não leu os
livros. - Zhang Jie (836-905)
Notas: Este poema
refere-se à famosa queima de livros ordenados por Qin Shi Huang (ou Ch’in Shih
Huang Ti), o primeiro imperador da China, em 213 a.C., a fim de suprimir a
dissidência e destruir os escritos de todas as escolas de pensamento, exceto
para os legalistas (Fajia??). Livros na época eram escritos em tiras de bambu
ou rolos de seda. A ironia é que as rebeliões camponesas e revoltas militares
que derrubaram o Império Qin apenas sete anos depois (206 a.C.), foram
conduzidos por homens de ação que não estavam interessados em
"livro-aprendizagem", como Xiang Yu, um alto general, e Liu Bang, um
oficial do Exército que se tornou o fundador do Han de Qin Shi Huang, Tiananmen
Wax Museum, em Pequim.
O I Ching escapou à
grande queima de livros feita pelo tirano Ch'in Shih Huang Ti, no tempo em era
considerado um livro de magia e adivinhação, o que levou a escola de magos das
dinastias Ch'in e Han a interpretá-lo segundo outras visões “A doutrina do
yin-yang” foi sobreposta ao texto. O sábio Wang Pi veio a resgatá-lo como livro
de sabedoria mais tarde.
Filosofia e Cosmologia
no I Ching
As oito figuras que
formam o I Ching estão na base da cultura que se desenvolveu na China durante
milênios. Para os chineses a ordem do mundo depende de se dar o nome correto às
coisas, portanto o significado de "I" sempre foi objeto de discussão.
Alguns vêem o ideograma I como semelhante ao desenho de um camaleão,
representando o movimento (como o lagarto) e a mutação (como o mimetismo do
camaleão). Outros afirmam que o ideograma é formado pelo do Sol em cima e o da
Lua embaixo, a mutação sendo simbolizada pelo movimento incessante destes
astros no céu.
Os versos do I Ching
foram transmitidos por sucessivas gerações de estudiosos até o século 17 a.C,
quando foram anotadas em tiras de bambu. No século 12 a.C, o rei Wen escreveu
os primeiros comentários sobre o trigramas do I Ching. Ao longo do tempo, o Rei
Wen, seu filho e Tan o Duque de Chou continuou a trabalhar sobre o I Ching e é
o que Duke está creditando com ajuste de dois trigramas uma sobre a outra para
fazer um hexagrama .
Muito mais tarde, o
imperador Chin proibiu centenas de livros sobre religião e filosofia. E, mais
tarde foi Hitler, Stalin, o Khmer Vermelho de Mao Tze Tung e, o I Ching que
estavam na lista do conhecimento proibido. Apesar de tudo, sobreviveu e foram
transmitidos oralmente pelos ciganos, que tinha a vantagem de nunca ficarem em
qualquer lugar por tempo suficiente para ser controlado por nenhum governo.
Durante a última dinastia imperial, que durou de 1644-1912, as raízes originais
do I Ching foi mais uma vez descoberto e estudado, e desta vez eles
permaneceram na impressão. Os comunistas chineses desaprovou a adivinhação
chinesa , considerando-os superstições inúteis, mas eles perceberam que era
tarde demais para bani-las totalmente.
O I Ching ou Livro das
Mutações, é um texto clássico chinês composto por várias camadas, sobrepostas
ao longo do tempo. É um dos mais antigos e um dos únicos textos chineses que
chegaram até nossos dias. Ching, significando clássico, foi o nome dado por
Confúcio à sua edição dos antigos livros de conhecimento. Antes era chamado
apenas I : o ideograma I é traduzido de muitas formas, e no século XX ficou
conhecido no ocidente como "mudança" ou "mutação".
Para o pensamento
chinês, não há o que mude, há apenas o mudar. A mutação seria o caráter do
mundo. Mas a mutação é, em si mesma, invariável, ela existe sempre. Portanto,
"I" significa mutação e não-mutação. Subjaz, à complexidade do
universo, uma 'simplicidade' que consiste nos princípios que estão por detrás
de todos os ciclos. Ao fluir com as circunstâncias evita-se o atrito e portanto
a resistência: esse é o caminho do homem sábio.
Tanto o taoísmo como o
confucionismo, as duas linhas da filosofia chinesa, beberam da fonte do I.
Tudo que ocorre no céu
e na terra tem sua imagem nos oito trigramas, que estão continuamente a
transformar-se um no outro. Têm várias camadas de significados, e representam
processos da natureza. São, portanto, o mundo arquetípico, ou o mundo das
idéias de Platão. É usada para ilustrá-los a analogia com a família:
•o pai é forte
•a mãe é maleável
•os três filhos são as três fases do
movimento: início, perigo e repouso
•as três filhas são as três etapas da devoção:
suave penetração, clareza e tranquilidade
Em Heráclito (filósofo
pré-socrático grego), e mais tarde na dialética européia, encontramos os ecos
da fluidez que é a base do I Ching.
Já vimos que, a origem
dos 64 hexagramas é atribuída a Fu Hsi, o criador mítico chinês, e até a
dinastia Chou eles formavam o I. Os oito trigramas têm nomes não encontrados em
chinês e a sua origem é pré-literária.
O tempo obscureceu a
compreensão das linhas, e no começo da dinastia Chou surgiram dois anexos: o
Julgamento, atribuído pela tradição ao rei Wên, e as Linhas, atribuídas a seu
filho, o duque de Chou, ambos fundadores desta dinastia.
Mais tarde, mesmo o
significado destes textos começou a ficar obscuro, e no século VI a.C. foram
acrescentadas as Dez Asas, que a tradição atribui a Confúcio, embora seja claro
que a maioria delas não pode ser de sua autoria. O nome "I Ching" é
dado ao conjunto dos Kua e todos os textos posteriores.
Houveram várias
traduções do "I Ching" para línguas ocidentais, algumas claramente
desrespeitosas, tratando a cultura chinesa como primitiva. A tradução de James
Legge fez parte da série Sacred books of the East (Livros sagrados do Oriente),
e foi traduzida também para o português.
Richard Wilhelm
traduziu o I Ching para o alemão ao longo dos anos em que viveu na China,
inclusive durante a invasão japonesa, quando a cidade em que estava foi
cercada. Teve o apoio de um velho e sábio mestre, Lao Nai Suan, que morreu ao
ser concluída a tradução. A edição alemã é do ano de 1923. Wilhelm traduziu
também outro clássico chinês, o Tao Te Ching.
In “I Ching o Livro das Mutações” de Richard Willhelm
In “I Ching o Livro das Mutações” de Richard Willhelm
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